O Espelho do Inconsciente
- anabelacunhapsi

- 17 de abr.
- 2 min de leitura

Com tanto ruído à nossa volta, torna-se cada vez mais difícil escutar o que se passa dentro de nós. Vivemos num constante movimento, muitas vezes automático, à procura de algo que nem sempre sabemos nomear. Será amor? Dinheiro? Poder? Estatuto? Reconhecimento? Validação?
A urgência com que vivemos — essa pressa desmedida — leva-nos a questionar: caminhamos realmente em direção a alguma coisa, ou estamos simplesmente a fugir? Fugimos dos nossos medos, das nossas incertezas, das angústias que não conseguimos tolerar… ou talvez, do vazio que por vezes se instala e ameaça revelar o que não queremos ver.
Segundo a psicanálise, grande parte do nosso comportamento é movido pelo inconsciente — essa parte de nós que desconhecemos, mas que nos habita e orienta. Procuramos fora o que nos falta dentro, desejamos o que nos escapa, repetimos padrões sem saber porquê. A busca por reconhecimento pode ser o eco de uma ferida antiga, talvez um desejo não satisfeito de ser visto, amado ou aceite.
Vivemos conscientes? Ou estamos alienados, perdidos num mundo imaginário, muitas vezes construído pelas projeções idealizadas de uma cultura que valoriza a imagem em detrimento da essência? Seguimos modelos superficiais, influencers do momento, como se a vida autêntica estivesse sempre fora de nós — no próximo vídeo, na próxima tendência, na próxima conquista.
E porquê? Talvez porque é mais fácil moldar-nos às expectativas do outro do que escutar o verdadeiro desejo que nos habita. Desejo esse que, como nos mostra Lacan, nunca se satisfaz plenamente, mas que nos move, nos inquieta, nos constrói.
Procuramos "pertencer", ser reconhecidos, tornar-nos "alguém" — porque isso alimenta o ego. Mas e o sujeito? E aquilo que verdadeiramente somos para além da máscara social, do Eu ideal, da performance quotidiana?
A pergunta que perdura — e que talvez seja a mais radical de todas — é: Quem somos nós? Não enquanto papéis que desempenhamos, mas enquanto sujeitos do desejo. Enquanto seres em falta, incompletos, contraditórios… e ainda assim profundamente humanos.








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