Serão os Educadores e Professores imunes à Ansiedade do Regresso à Escola?
- anabelacunhapsi

- 5 de set. de 2023
- 4 min de leitura
Muito se fala da ansiedade no regresso à escola e dos desafios que as crianças, os jovens e os pais enfrentam no arranque do novo ano letivo. Mas será que os educadores, professores e a comunidade educativa serão imunes a esta emoção?

Quando se fala em ansiedade no regresso à escola imediatamente pensamos na ansiedade sentida pelas crianças e pelos pais na adaptação às novas rotinas e aos desafios que terão de enfrentar no novo ano letivo. Mas, raramente se olha para o outro lado da moeda, ou seja, para os educadores, professores e para a comunidade educativa que, durante um ano letivo inteiro se dedicam a dar o melhor de si em prole da educação, aprendizagem e crescimento saudável dos nossos filhos. Assume-se, à partida, que estes profissionais (talvez devido à profissão) estarão completamente à vontade com o regresso à escola e esquecemo-nos que são seres humanos e que também eles se sentem ansiosos, apreensivos, nervosos e com medo de não estarem à altura das responsabilidades. Muitas são as questões que lhes passam pela cabeça:
"Será que serei capaz?"
"Será que as crianças/jovens gostarão de mim?"
"Será que vou conseguir dar a resposta que os pais procuram? E se eu não conseguir?"
"E se eu não for capaz de perceber as necessidades das crianças?"
"Será que vou ser capaz de deixar os meus problemas pessoais de lado? Conseguirei gerir as minhas emoções?”
Para além das dúvidas e medos transversais a todos os seres humanos, os educadores e professores sentem que têm uma responsabilidade acrescida porque têm de ser um exemplo para as crianças/jovens e isso gera grande ansiedade. Aliado a estes medos, dúvidas e incertezas, acrescentamos a pressão efetuada por alguns pais, as longas horas que têm de trabalhar para além do horário letivo, as baixas remunerações, a distância que muitos têm que percorrer diariamente, a desvalorização da profissão, etc. Não admira que muitos destes profissionais acabem por entrar em Burnout ou Depressão. Todos sabemos que não é fácil educar uma criança e lidar com as especificidades da fase da adolescência. Agora imaginem cuidar de uma turma com 25 crianças/jovens. É normal que em determinada altura, também estes profissionais se sintam exaustos e esgotados, física e mentalmente. Muitos são os que ao longo do ano letivo apresentam baixa médica devido à pressão que sentem diariamente e ao cansaço extremo.
É importante ter em atenção os seguintes sinais de alerta:
Cansaço excessivo (físico e mental)
Dores físicas
Alterações no apetite
Alterações no sono
Irritabilidade
Falta de motivação
Falta de memória
Falta de concentração
Apatia
Tristeza constante
Sensação de fracasso
Solidão
Consumo de substâncias (álcool em excesso, tabaco, drogas)
Vício do jogo
etc.
Cada pessoa é única e irá manifestar sinais e sintomas diferentes. O importante é estar atento/a a possíveis alterações físicas e emocionais. Se esses sintomas persistirem ou aumentarem de intensidade, é necessário procurar ajuda especializada!
Sugestões para lidar com a ansiedade do regresso à escola
Nota: Estas sugestões baseiam-se em evidência científica, mas não substituem a psicoterapia. Se sente que a ansiedade é demasiado intensa ao ponto de afetar o seu dia a dia, procure ajuda!
Gestão de expectativas – é esperado que surjam situações difíceis de controlar ao longo do ano letivo, tais como birras (no caso de crianças mais pequenas), brigas, situações de agressividade, más notas, pais zangados, adolescentes rebeldes, colegas de profissão que pensam de forma diferente, entre outras. Ter consciência de que há situações que não podemos (nem devemos) controlar e não são da nossa responsabilidade ajuda a acalmar a ansiedade. Nem sempre vai correr tudo bem e está tudo bem, é a vida a acontecer. O segredo é fazer o seu trabalho o melhor que sabe..
Gestão emocional – é muito importante saber gerir emoções. “O que é que eu estou a sentir? Porque é que me estou a sentir assim? O que é meu? Porque é que me estou a sentir zangado/a? O que é do outro? Porque é que aquela pessoa está a falar assim comigo? Será que fiz alguma coisa de errado? Se sim, como posso resolver? Se não, aceito que não posso mudar a situação.” A Inteligência Emocional é a capacidade de saber ler as nossas emoções e as emoções do outro. É uma competência extremamente importante para a manutenção das relações interpessoais. Profissionais que têm de lidar diariamente com outras pessoas devem apostar no desenvolvimento desta competência. Isso irá contribuir para a manutenção de relações mais saudáveis e, consequentemente, para uma melhor saúde mental..
Autoconhecimento – a inteligência emocional e o autoconhecimento andam de mãos dadas. Ao aprender a lidar com as minhas emoções, estou a aprender mais sobre mim e vice-versa. As crianças e jovens reveem-se nos exemplos dos adultos e isso é uma grande responsabilidade para quem lida diariamente com estas populações. Por isso, se queremos ser bons exemplos, em primeiro lugar temos que nos conhecer, pois só assim conseguimos perceber o que estamos a transmitir aos outros.
Investir em conhecimento/formação - para quem lida com crianças e jovens é fundamental conhecer as diferentes etapas de desenvolvimento do ser humano e as especificidades de cada uma. Isso permitirá ganhar um maior sentimento de autoeficácia e competência que ajudarão a diminuir a ansiedade.
Estabelecer relacionamentos saudáveis - investir em relacionamentos saudáveis no trabalho contribui para a redução da ansiedade. A partilha de dúvidas, medos, inseguranças, bem como conquistas, resultados positivos e alegrias, ajuda a criar um sentimento de pertença, fortalecendo as relações interpessoais e diminuindo o medo e a ansiedade.
Manter rotinas saudáveis - fazer uma alimentação saudável, exercício físico, higiene do sono, são hábitos que influenciam diretamente o nosso sistema nervoso e, consequentemente, ajudam a reduzir a ansiedade.
Pedir ajuda - é fundamental que a sociedade se comece a consciencializar para a importância da prevenção. Não procurar ajuda apenas quando já não existe outra solução. Quando já se esgotaram todos os outros recursos. E não! A medicação, por si só, não é solução! A medicação pode ajudar a atenuar os sintomas, mas o problema irá continuar lá! É preciso ir à origem dos problemas, à origem do sofrimento! E isso só é possível através da Psicoterapia!








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